" O vento é o mesmo mas sua resposta é diferente em cada folha".
Cecília Meireles

quarta-feira, 13 de março de 2013


Conceituar currículo, quando, onde e como?

Profª Maria de Lourdes Ribeiro

A professora da disciplina “Tendências Contemporâneas de Currículo” pediu-me que conceituasse currículo às 7 da manhã, ainda com o cérebro dormente e livre de qualquer interferência da rotina vivenciada. Pronta para compartilhar correlacionei o nome ao conjunto de conteúdos recomendados para estudo em uma determinada etapa escolar. Achei que fui clara e completa! Doce ilusão.

A proposta estendeu-se para a semana seguinte o que suscitou uma maior reflexão. Isso começou após o sono de domingo à tarde, quando percebi que o dia já estava no final do segundo turno e que deveria dar continuidade no planejamento anual com prazo de entrega esgotado, além de melhor direcionar a aula de segunda feira, já delineada no sábado (confesso que no auge dos meus 21 anos no exercício da função de professora confecciono um caderno de plano de aula diário, com objetivos, recursos, metodologia e tudo o mais que a boa e amiga Didática recomenda).

Nessas alturas, minha mesa de trabalho já continha esparramado e marcado em várias partes: o CBC de Ciências revisado na sua segunda versão (tópicos obrigatórios passaram de 40 para 30, alguns destes foram covertidos em complementares, dentre outras modificações), o Caderno de Boas Práticas de Professores de Ciências da SEE-MG, várias sugestões de planejamento e o Google à minha disposição.

Comecei a refletir que para atribuir um conceito para currículo dependia primeiro de melhor perceber o contexto em que eu me inseria, qual seja, a aula da pós-graduação fora um contexto e a escola na qual trabalho é outro, totalmente diverso.

Lembrei-me de Paulo Freire e da quão moderna é a divisão entre classes opressoras e oprimidas. Arrisco-me, pois, a afirmar que o conceito de currículo pode ser entendido como a forma com os opressores encontraram para divulgar e autorizar quais conhecimentos devem ser disponibilizados para os oprimidos admitindo-se a hipótese de sua flexibilidade e a certeza de sua total cobrança nas avaliações externas. Dessa visão, não tão motivadora, restou a analogia de que currículo é um doce trancado na vitrine. Além do acesso difícil não está disponível para qualquer paladar.

Registra-se que os opressores, necessariamente não são os professores, embora muitas vezes assumam essa função, pelo despreparo, pela falta de objetividade e desinteresse, dentre outras incontáveis razões que se arraigaram na categoria, mas principalmente aqueles que oportunizam e exigem o cumprimento dessa programação de ensino, diga-se de passagem, tão desinteressante para os alunos em muitos de seus aspectos. Nesse mundo competitivo, até que ponto importa conhecer?

Por outro lado, na figura de também oprimidos, questiona-se sobre quantos professores têm se resignado para se dedicar à árdua tarefa de fazer cumprir aquilo que, por consenso já se divulgou possível para a prática pedagógica, mas que dá sinais que nunca será desenvolvido na sua plenitude e no teor de sua proposta. Preciso quebrar a vitrine, já que o paladar pode ser treinado.

Um comentário:

  1. Lourdes, quando li seu texto me senti dentro do contexto descrito. Nossa preocupação com o preparo meticuloso de nossas aulas mostra que estamos trabalhando naquilo que verdadeiramente acreditamos. É possível provocar mudanças, lembre-se sempre da história do beija flor. Caso não se recorde, postarei em meu blog para que dê uma lida e pense que podemos contaminar positivamente com nossas atitudes.

    ResponderExcluir