Conceituar currículo, quando, onde e como?
Profª Maria de Lourdes Ribeiro
A professora da disciplina “Tendências
Contemporâneas de Currículo” pediu-me que conceituasse currículo às 7 da manhã,
ainda com o cérebro dormente e livre de qualquer interferência da rotina
vivenciada. Pronta para compartilhar correlacionei o nome ao conjunto de
conteúdos recomendados para estudo em uma determinada etapa escolar. Achei que
fui clara e completa! Doce ilusão.
A proposta estendeu-se para a
semana seguinte o que suscitou uma maior reflexão. Isso começou após o sono de
domingo à tarde, quando percebi que o dia já estava no final do segundo turno e
que deveria dar continuidade no planejamento anual com prazo de entrega
esgotado, além de melhor direcionar a aula de segunda feira, já delineada no
sábado (confesso que no auge dos meus 21 anos no exercício da função de
professora confecciono um caderno de plano de aula diário, com objetivos,
recursos, metodologia e tudo o mais que a boa e amiga Didática recomenda).
Nessas alturas, minha mesa de
trabalho já continha esparramado e marcado em várias partes: o CBC de Ciências
revisado na sua segunda versão (tópicos obrigatórios passaram de 40 para 30, alguns
destes foram covertidos em complementares, dentre outras modificações), o
Caderno de Boas Práticas de Professores de Ciências da SEE-MG, várias sugestões
de planejamento e o Google à minha disposição.
Comecei a refletir que para
atribuir um conceito para currículo dependia primeiro de melhor perceber o
contexto em que eu me inseria, qual seja, a aula da pós-graduação fora um
contexto e a escola na qual trabalho é outro, totalmente diverso.
Lembrei-me de Paulo Freire e da
quão moderna é a divisão entre classes opressoras e oprimidas. Arrisco-me, pois,
a afirmar que o conceito de currículo pode ser entendido como a forma com os opressores
encontraram para divulgar e autorizar quais conhecimentos devem ser
disponibilizados para os oprimidos admitindo-se a hipótese de sua flexibilidade
e a certeza de sua total cobrança nas avaliações externas. Dessa visão, não tão
motivadora, restou a analogia de que currículo é um doce trancado na vitrine.
Além do acesso difícil não está disponível para qualquer paladar.
Registra-se que os opressores,
necessariamente não são os professores, embora muitas vezes assumam essa
função, pelo despreparo, pela falta de objetividade e desinteresse, dentre
outras incontáveis razões que se arraigaram na categoria, mas principalmente
aqueles que oportunizam e exigem o cumprimento dessa programação de ensino,
diga-se de passagem, tão desinteressante para os alunos em muitos de seus
aspectos. Nesse mundo competitivo, até que ponto importa conhecer?
Por outro lado, na figura de
também oprimidos, questiona-se sobre quantos professores têm se resignado para
se dedicar à árdua tarefa de fazer cumprir aquilo que, por consenso já se
divulgou possível para a prática pedagógica, mas que dá sinais que nunca será
desenvolvido na sua plenitude e no teor de sua proposta. Preciso quebrar a
vitrine, já que o paladar pode ser treinado.