Autor: Antonio
Flávio Barbosa Moreira e Tomaz Tadeu da Silva
Ideias principais:
Este texto é dividido em dois temas:
- Emergência e desenvolvimento da sociologia e da
teoria crítica do currículo.
- Uma visão sintética dosa temas centrais da
análise crítica e sociológica do currículo.
Resumo do capítulo:
Os autores objetivam demonstrar uma visão sobre a tradição
crítica e sociológica do currículo com uma breve incursão na sua história,
gênese e desenvolvimento. No segundo momento, apresentam uma visão sintética do
campo de análise crítica e sociológica do currículo nos tempos atuais.
Em sua trajetória histórica Moreira e Silva apontam que o
campo de estudos da Teoria Crítica do Currículo originou-se nos Estados Unidos
e desenvolveu-se na Inglaterra, elegendo-se aí como foco central da Sociologia
da Educação.
Foi durante o final do século XIX nos Estados Unidos que educadores
começaram a tratar mais sistematicamente de problemas e questões curriculares
dando o surgimento de um novo campo. Devido a essa necessidade gerou o
planejamento cientifico das atividades pedagógicas a fim de evitar que o
comportamento e o pensamento do aluno se desviassem das metas e padrões
pré-definidos. Neste período os Estados Unidos estava passando pelo período
pós-guerra civil, a economia passou a ser denominada pelo capital industrial.
Surgindo uma nova concepção de sociedade baseada em práticas e valores de
ideologia que era a cooperação e especialização ao invés de competição. O
sucesso na vida profissional passou a requerer evidências de méritos na
trajetória escolar.
Segundo apontamentos dos autores podem ser observadas duas
tendências voltadas à elaboração de um currículo: uma que valorizava os
interesses do aluno, representada pelos trabalhos de Dewey e Kilpatrick que
aqui no Brasil ficou conhecida como escolanovismo e a segunda voltada para a construção
científica de um currículo que desenvolvesse os aspectos da personalidade
adulta, o que que aqui se denominou tecnicismo. Durante a crise espacial, gerou na
sociedade americana uma contracultura que enfatizava a liberdade sexual, uso de
drogas, etc. As escolas foram alvos de críticas onde falavam em transformá-la e
democratizá-la ou então aboli-la e substituí-la por outro tipo de instituição.
Na conferência de 1973, na Universidade de Rochester, com a
intenção de identificar e ajudar a eliminar os aspectos que contribuíram para
restringir a liberdade dos indivíduos surgiram duas correntes: Uma associada às
Universidades de Wisconsin e Columbia, mais fundamentada no neomarxismo e na
teoria crítica. A outra associada à tradição humanista e hermenêutica mais
presente na Universidade de Ohio.
No período de 1950-1980, novos rumos teóricos e
metedológicos transformaram a feição do ensino e da pesquisa da Sociologia na
Grã Bretanha, uma Sociologia renovada.
Tanto os primeiros textos da NSE como seus desdobramentos
permanecem até hoje insuficientemente divulgados no Brasil .
No segundo tema: Uma visão dos temas centrais da análise
crítica e sociológica do currículo vem afirmar que não é mais possível alegar
inocência ao papel do conhecimento organizado e transmitido nas instituições educacionais.
O currículo está envolto de três eixos: ideologia, cultura e
poder.
Currículo e ideologia
A ideologia era vista como uma imposição. Essa visão
amplia-se em três dimensões: A primeira, a ideologia não teria efeito se não
contasse com alguma forma de consentimento dos envolvidos. A segunda, a
ideologia não é homogênea e coerente de ideias, é feita de diferentes espécies
de conhecimentos. A terceira dimensão, nesse processo de refinamento do conceito,
os mecanismos de transmissão foram sendo vistos como muito sutis.
Currículo e cultura
Na teoria educacional tradicional cultura e currículo formam
um par inseparável, formando uma forma institucionalizada de transmitir a
cultura de uma sociedade.
O currículo e a educação estão profundamente envolvidos em uma
política cultural, o que significa que são campos de produção ativa de cultura
.
Portanto, o currículo é um terreno de produção e de política
cultural no qual os materiais funcionam com matéria-prima de criação, recriação
e de contestação e transgressão.
Cultura e poder
O currículo ao expressar as relações de poder, no seu
aspecto oficial, constitui identidades individuais e sociais que ajudam a
reforçar as relações de poder existentes fazendo com que os grupos subjugados
continuem da mesma forma. Cabe a teorização curricular crítica em um esforço
contínuo de identificação e análise das relações de poder envolvidas na
educação e no currículo.
O currículo como um campo cultural, um campo de construção e
produção de significados e sentidos das relações de poder.
Um conceito que também merece destaque é o conceito do
currículo oculto. O currículo oculto foi criado para se referir àqueles
aspectos das experiências educacionais não explicados no currículo oficial,
formal.
As relações entre currículo e produção de identidades
sociais e individuais têm levado os educadores a formular projetos educacionais
e curriculares que se contraponham às características que fazem com que o currículo
e a escola reforcem as desigualdades da presente estrutura social.
Nesse contexto tem havido uma tendência a vincular currículo
e construção da cidadania e do cidadão.
Enfim, tem havido modificações nas formas de conceber o
conhecimento e a linguagem com profundas implicações para a teorização sobre o
currículo.
A teorização crítica sobre currículo, da qual a sociologia
do currículo é um importante elemento é um processo contínuo de análise e
reformulação que está apenas começando.
Comentários:
O texto mostra um relevante retrospecto sobre currículo e a
preocupação em construir sua teorização de forma crítica. Os autores constroem
uma trajetória história deveras detalhada buscando relacionar a construção do
currículo aos fatos sociais relevantes. É também evidente que as construções
teóricas sobre o assunto tendem a se detalhar conforme o interesse de alguns
grupos tendendo a se constituir em
elementos para sua pormenorização.
Segue a sugestão de que o material é relevante para
educadores e demais pesquisadores da educação que desejem aprofundar-se nas
teorias sobre currículo.